Gentleman Jack da HBO e BBC One

Gentleman Jack, um seriado britânico baseado na história de vida de Anne Lister está dando o que falar. O seriado é uma parceria entre BBC One e HBO e esse “casamento” não poderia ter gerado um filho tããão lindo quanto esse seriado.

Começo minha resenha dizendo que a fotografia do seriado é divina, as cenas são de extremo bom gosto e o cenário é lindo. O ano é 1832, a cidade é Halifax, West Yorkshire, o país? Inglaterra!


Apresentando o elenco principal de Gentleman Jack:

Suranne Jones é uma atriz e produtora inglesa. O seu primeiro papel de destaque foi com a personagem Karen McDonald em Coronation Street. Seus outros créditos na televisão incluem: Vincent, Strictly Confidential e Harley Street. Ela representa Anne Lister.

Sophie Rundle é uma atriz inglesa. Ela é mais conhecida por interpretar Ada Shelby na série televisiva de drama policial da BBC One Peaky Blinders, como Vicky Budd na série de televisão Bodyguard da BBC, como a quebradora de códigos Lucy na série dramática da ITV, The Bletchley Circle. Ela representa Ann Walker.

Gemma Elizabeth Whelan é uma atriz e comediante inglesa, conhecida por interpretar Yara Greyjoy na série da rede de televisão HBO, Game of Thrones. Ela representa Marian Lister.

Direção: Sally Wainwright; Sarah Harding; Jennifer Perrott.

Roteiro: Sally Wainwright


Feito as devidas apresentações, vamos ao que interessa.

Sim, Yara Greyjoy está aqui! E ela não é lésbica, mas é a irmã de Anne Lister e tem um papel atuante importante na série. A atuação está perfeita, assim como em Game of Thrones ela me surpreende a cada cena. Marian Lister, é aquela irmã que dá tapa com luva de pelica e estende a outra mão para ajudar. Ela compreende a orientação sexual de Anne apesar dela achar que a irmã chama muito a atenção para si fazendo todos esquecerem que Marian está no mesmo local.


Mas por que começar a resenha pela irmã? Para você começar a entender a excentricidade da personagem. A roteirista, Sally Wainwright, trouxe um personagem enraizado de estereótipos, porém não deixou de lado a delicadeza dela ser mulher.


Anne Lister afirma com todas as letras que nasceu no corpo errado e que a natureza está lhe pregando uma peça ao colocá-la como homem no corpo de uma mulher. Em várias cenas vemos Anne escrevendo em seu diário, relatos que deram origem à narrativa construída por Sally. Anne Lister quer e faz tudo o que um bom homem faria no ano de 1832 e não se preocupa com o que a sociedade vai falar, pensar ou comentar. E haja comentários sobre a dona de Shibden Hall. Sempre que há um comentário sobre ela, dizem: “Ela não é confiável perto de outras mulheres”. Essa frase é repetida várias vezes nos primeiros episódios, referindo-se a ela como homossexual. A palavra homossexual não é dita em nenhum diálogo de forma enfática, apenas há insinuações e caras de insatisfação quanto ao fato dela gostar de mulher.


Ann Walker, uma dama da alta sociedade de Hallifax que tem 29 anos e é considerada velha para estar solteira. Se não me engano elas têm uma diferença de quase dez anos de idade. A jovem sofre de depressão e é apaixonada pela Lister desde os quatorze anos. Ann é salva de uma depressão mais profunda quando Anne começa a visitá-la para criarem um laço de “amizade”.


No começo, você fica puta da vida com Anne Lister, pois a trama dá a entender que ela quer dar o golpe do baú em Ann Walker, mas a história é tão envolvente que você vai percebendo a paixão florescer a cada minuto. E você começa a odiar Ann Walker, rsrs.


Não quero dar muito mais spoiler do que já dei até agora, mas preciso falar sobre preconceito. Em um dos episódios, acontece uma cena que me fez refletir sobre vários preconceitos que ainda estão enraizados nos dias de hoje. E foi nesse episódio que descobri que “Jack” é um xingamento semelhante ao nosso “sapatão” ou “homem-mulher”. E ele se torna recorrente depois deste episódio.


Fazendo uma analogia ao ano de 1832 e aos dias de hoje, não posso deixar de citar alguns avanços, tais como o casamento civil. Hoje (e espero que para sempre), podemos casar e ter direitos, assim como todo casal hétero já tinha. Estamos caminhando para a criminalização da homofobia e as lutas LGBT+ estão ganhando forças e aliados a todos momento. Claro que, ainda somos humilhadas e assassinadas (1 a cada 18 horas), mas evoluímos! Em 1832, não se podia em pensar em casamento entre mulheres e homens que eram pegos fazendo atos homossexuais eram enforcados.


Na contramão disso tudo, vemos uma sociedade ainda regada a preconceito e discriminação. Nosso querido Brasil, é o país que mais mata LGBTs no mundo e as estatísticas só pioram, principalmente depois da eleição de 2018.


O seriado aborda o preconceito na sociedade de 1832, mas este mesmo preconceito ainda nos rodeia e senta à mesa aos domingo na hora do almoço da família “tradicional” brasileira.


Eu recomendo demais o seriado Gentleman Jack, não só por tudo o que falei, mas pela luta interna que Anne Lister enfrenta. O nascimento no corpo errado e a vontade de ser o que a sociedade acha que ela não deve ser. Em uma cena, ela relata que se treinou para ser indiferente a todo o preconceito que a rodeia. Ela chora na cena, primeira cena em que ela se entrega às lágrimas, e isso é a representação de cada LGBT+ que precisa enfrentar o dia-a-dia com o preconceito enraizado na sociedade, na família, nos pais e parentes próximos.


Suranne Jones está perfeitamente andrógena neste seriado. Tem cenas em que a feminilidade dela é tão exagerada que você esquece as vestimentas estranhas que Anne Lister usa no dia-a-dia. E tem cenas que você a vê como o sexo forte (como ela se refere aos homens) e quer ver soco, porrada e bomba.


Eu estou apaixonada pela série e já quero a segunda, terceira, quarta… temporada.

Para quem quer se aprofundar na vida de Anne, há edições de livros americanos sobre a vida dela:
Gentleman Jack: The Real Anne Lister The Official Companion to the BBC Series

The Secret Diaries Of Miss Anne Lister (English Edition)

No Priest but Love: The Secret Diaries of Miss Anne Lister 1824-1826 (English Edition)

Ainda não achei notícias sobre traduções para o português. 🙁

Se alguém souber, deixe nos comentários.

Um abraço,

Alice Reis

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